Praticado originalmente pelos camponeses do interior da ilha de Santiago, o funaná permaneceu, durante o período colonial, desconhecido até mesmo pela população urbana da ilha. Conta-se que aos domingos, quando os camponeses se dirigiam à cidade da Praia (capital de Cabo Verde) para vender os seus produtos no mercado municipal, levavam também a gaita (acordeão, na linguagem local) e o ferrinho (barra metálica ¿ originalmente a lâmina de uma enxada com que se marca o ritmo ao ser friccionada com uma faca ou outro objecto metálico).
Mas nessa época quem reinava no gosto do público urbano era a morna, e os bailes de gaita onde pontificavam tocadores célebres dos quais em muitos casos hoje só resta a lembrança dos nomes, já que nunca gravaram esses só se realizavam no interior.
Diz a lenda que Funaná era um homem e sua mulher; ele era Funa, e tocava gaita, ela era Naná, e tocava ferrinho. Contudo, há quem afirme que a utilização dessa palavra é recente (a partir de fins da década de 50); os mais antigos apenas se recordam da expressão badju gaita (baile animado por um tocador de gaita). Nesses bailes, vários ritmos eram interpretados, como valsas, sambas e mazurcas de onde se conclui que funaná não é propriamente um ritmo, mas uma maneira de interpretar diferentes estilos musicais.
Só depois da independência de Cabo Verde (1975) o funaná passa a ser assumido de forma plena como género musical nacional, a partir do surgimento do grupo Bulimundo, criado em 1978. Com instrumentos eléctricos e uma sonoridade mais urbana e moderna, Bulimundo retira o funaná dos limites do regionalismo, lançando-o para o público das outras ilhas e da emigração. Na década de 80, fase em que se verifica uma verdadeira explosão da produção discográfica da música cabo-verdiana, a sua presença é digna de destaque.
Já nos últimos anos da década de 90, passa-se a uma nova fase, em que a gaita, que na fase de modernização tinha sido posta de parte, surge como instrumento solista acompanhada do velho ferrinho, mas sem desprezar o reforço rítmico do baixo, guitarra e bateria. Um novo filão é então descoberto.
FIGURAS DO FUNANÁ
Codé di Dona, Sema Lopi e Bitori Nha Bibinha são veteranos do funaná tradicional que só na década de 90 do século XX conseguem gravar os seus discos, após o sucesso comercial dos Ferro Gaita. Este grupo, criado em 1996, é que dá origem a essa nova fase do funaná, recuperando os instrumentos tradicionais. Outros nomes nessa linha: Belo Freire, Julinho da Concertina, António Sanches, grupo Petural.
Bulimundo, liderado por Katchás, é o grupo que lançou o funaná eléctrico e electrizante para o público urbano, conquistando o país e a diáspora. Segue-se o Finaçon, que dura até meados dos anos 90. Em ambos, destaque para a voz de Zeca de Nha Reinalda. Outros intérpretes do funaná eléctrico, mais recentes: Kino Cabral, Beto Dias, Chando Graciosa.
In Cabo Verde Digital
terça-feira, 22 de julho de 2008
segunda-feira, 21 de julho de 2008
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